Pobre, pois só tem dinheiro
Resolvi contar um causo
Que acho interessante
Quem me contou não recordo
Foi num tempo até distante
História de certo Tião
Contador de profissão,
Num descansava um instante.
Tinha uma sala bonita
Com móveis de fino trato
Vários quadros na parede
Nenhum deles com retrato
Alguns objetos de arte
Num canto da mesa a parte
Várias cópias de um contrato
Mas Tião não era só
Tinha uma bela família
Uma esposa apaixonada
Um filho e uma filha
Bela casa de morar
Um verdadeiro lar
Seu paraíso era sua ilha
Trabalhava dia e noite
Muitos papeis na estante
Lia, conferia e assinava
Tudo era importante
E o que era seu ofício
Virara um sacrifício
Quase que num instante
Em meio a tanto conforto
Dessa vida até pacata
Tião não se dera conta
Que essa carreira chibata
Pedia mais do que dava
Que quando ela pegava
Se não aleijar, mata.
Já cansado de seu dia
Saia pra caminhar
Com a roupa do trabalho
Só pra tomar um ar
O telefono tocava
A mulher que perturbava
Perguntando do jantar
- Alô, quem tá falando?
Já era a mulher zunindo
- Por enquanto só você,
Eu mesmo só tô ouvindo!
Daí era a briga besta
Que começava na sexta
E ía até o domingo.
Então Tião refletiu
- Tô trabalhando demais!
Vou cuidar da minha família!
Do resto eu corro atrás!
Nunca sei do futuro!
E se amanha caio duro?
Meu legado quem faz?
Então tomada a certeza
Mudou sua atitude
Certo da vida curta
Pois não tinha juventude
Homem de muita idade
Que não aceita a verdade
Sabe porque se ilude
Passou a trabalhar menos
Lavar sua própria calçada
Dar um trato na espora
Como outrora namorada
Fazer companhia aos filhos
Sentar e comer sucrilhos
Não reclamar mais de nada
O dinheiro era menor
Mas isso não importava
Tião estava feliz
Do resto depois cuidava
Num sente um pingo de saudade
Da rotina de maldade
De quando só trabalhava
Se você meu amigo
Também trabalha o tempo inteiro
Num vá se acabar por isso
Cuidado com esse vespeiro
Num vá terminar sua vida
Pessoa triste e deprimida
Pobre, pois só tem dinheiro.
Valmir Soares Jr
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